Pesquisa brasileira aponta laranjeiras como retentoras de carbono

14/07/2025 - Cinturão citrícola de SP e MG armazena cerca de 8,4 milhões de toneladas de carbono.

Fonte: Globo Rural 

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      O cinturão cítricola do Brasil, que se estende por São Paulo e pelo Triângulo Mineiro, é uma das áreas promissoras para fixação de carbono no Brasil. Em um ano, uma laranjeira é capaz de fixar 4,28 quilos do gás em sua biomassa, revela um estudo inédito coordenado pela Embrapa e pelo Fundicitrus.

 

      Em tonelada, pesquisadores calcularam que cada hectare de produção de frutas cítricas nas regiões remove duas toneladas de carbono da atmosfera por ano, em média. Para isso, criaram modelos matemáticos que envolvem características dos pomares. O levantamento da Embrapa Territorial e do Fundecitrus teve apoio do Fundo de Inovação para Agricultores da empresa innocent drinks, do Reino Unido e acaba de ser publicado na revista científica “Agrosystems, Geosciences & Environment”.

 

      “Comparados a culturas como soja, milho e pastagens, os pomares de laranja têm uma capacidade muito maior de armazenar carbono, funcionando como um grande reservatório, o que contribui significativamente para a mitigação da mudança do clima”, explica o pesquisador Lauro Rodrigues Nogueira Júnior.

 

      Nos pomares comerciais do cinturão citrícola brasileiro, a pegada de carbono se escala, o que segundo os pesquisadores é essencial para cumprir com deveres ambientais e exigências internacionais pela redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE), justifica a Embrapa.

 

      Estima-se que, em média, cada árvore de laranja pode neutralizar dez dias de emissões de GEE de um brasileiro. As 162 milhões de árvores com mais de três anos, cultivadas em 337 mil hectares nos Estados de São Paulo e Minas Gerais, armazenam juntas cerca de 8,4 milhões de toneladas de carbono.

 

      As estimativas foram obtidas por meio de medições em campo, análises em laboratório, imagens de satélite e modelagem de dados. Os cientistas fizeram a medição direta de 80 laranjeiras e a coleta de dados biométricos em mais de 1.300 árvores cultivadas em diferentes regiões do cinturão citrícola.

 

      Com os dados, os pesquisadores criaram equações alométricas — modelos matemáticos baseados em variáveis como altura, diâmetro do tronco e dos galhos primários e secundários — para estimar a biomassa das árvores e, consequentemente, o estoque de carbono nelas contido.

 

      Cada laranjeira armazena, em média, 52 quilos de carbono na biomassa viva — considerando folhas, galhos, tronco e raízes. Isso equivale a 25 toneladas de biomassa viva por hectare, valor superior ao atualmente utilizado pelos inventários oficiais de gases de efeito estufa no Brasil. “Estes adotam uma estimativa genérica de 21 toneladas de carbono por hectare para culturas perenes”, lembra a Embrapa Territorial.

 

      Os resultados encontrados poderão servir como base para novas mensurações de estoques de carbono em pomares de laranjas de produtores e empresas que desejam acessar o mercado de carbono, avalia o pesquisador.

 

      Estoque total de carbono e biodiversidade

      A pesquisa estimou o estoque total de carbono no cinturão citrícola, somando a biomassa das laranjeiras, o carbono orgânico do solo e a vegetação nativa preservada nas propriedades. São 36 milhões de toneladas do gás armazenadas — o equivalente a 133 milhões de toneladas de CO2 que deixaram de ser lançadas na atmosfera.

 

      Outro destaque do trabalho é a capacidade das lavouras de citros se converterem em ambientes favoráveis à conservação da fauna. No mesmo escopo da pesquisa, monitorou-se mais de 300 espécies de animais silvestres convivendo com a produção em cinco propriedades analisadas — a maioria aves e mamíferos.

Segundo a Fundecitrus, as propriedades citrícolas do cinturão contam com quase 160 mil hectares de áreas de vegetação nativa.