Baixa emissão de carbono contribui para produção sustentável de alimentos

 

10/01/2022 - O desafio para reduzir a emissão de carbono e avançar na sustentabilidade do planeta é fazer com que todos os produtores rurais brasileiros, inclusive os pequenos, tenham acesso a tecnologias.

Fonte: FAESP/SENAR SP

 

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           As mudanças climáticas e a maior pressão de consumidores por um agronegócio mais sustentável estão no centro do debate mundial, como observado no início deste mês durante o encontro da 26ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 26), realizada em Glasgow, na Escócia. Impulsionando ainda mais as exigências, a Comissão Europeia propôs, na sequência do evento sobre o clima, proibir a importação de produtos do agronegócio considerados fortemente ligados ao desmatamento e à degradação florestal, entre eles algumas das commodities mais exportadas pelo Brasil, como soja e carne bovina.

 

           Há dois fatores que impulsionam essa cobrança em cima dos produtores rurais. Primeiro, o desmatamento, por meio das queimadas, que tem sido uma das principais técnicas associadas às atividades de mudança de solo, o que contribui para deteriorar todo o bioma e que geram emissão descontrolada de gás carbônico (CO²), um dos principais gases que provocam o efeito estufa. A outra questão está ligada aos lançamentos de Gases de Efeito Estufa (GEE) que os rebanhos bovinos emitem, como o metano. A emissão descontrolada desses gases é uma das principais causas do aquecimento global. Por isso, zerar as emissões ou compensá-las quando não for possível acabar de vez com elas, tem sido o grande debate da atualidade.

           Para acolher as novas exigências do mercado, o produtor rural precisa entender a importância do engajamento pela baixa emissão de carbono e a adaptar aos seus negócios. O caminho para impulsionar um comércio agrícola socialmente inclusivo, economicamente lucrativo e positivo para o meio ambiente passa pela disseminação de técnicas produtivas sustentáveis a todos os produtores rurais, com apoio especial aos pequenos. Sem esta qualificação, não é possível exigir padrões de sustentabilidade, transparência e rastreabilidade. Do contrário, corre-se o risco de criar um sistema de exclusão, condenando os produtores menos eficientes à pobreza e ao uso de práticas predatórias.

Medidas adotadas

           Apesar dos desafios, em diversas propriedades rurais de todo o Brasil, é possível ver bons exemplos de produtores que aplicam as tecnologias de baixa emissão de carbono. Uma das estratégias adotadas é a produção integrada de lavoura, pecuária e floresta (iLPF), isto é, conectar plantações, criação de animais, e coberturas florestais em um mesmo espaço.

           De modo geral, as espécies mais comumente adotadas nestas propriedades são aquelas que apresentam rápido crescimento, como o eucalipto e os diversos tipos de pinus. Além de este plantio contribuir com a captura do gás carbônico (CO²) presente na atmosfera, a madeira proveniente desse tipo de cultura pode ser utilizada na fabricação de papel, móveis, materiais para construção e muito mais, otimizando a receita do produtor.

 

           Uma das estratégias adotadas, por exemplo, é unir eucalipto e gado de corte. Com a integração, a produtividade do pasto e do rebanho aumenta porque as árvores permitem a recuperação da pastagem, proporcionando ainda um gado mais saudável e a redução dos ataques de moscas e carrapatos. Isso porque, a ambientação entre eucalipto e capim ajuda a preservar a umidade, tanto no solo, quanto no ar, garantindo ainda que o rebanho enfrente o período de estiagem com uma pastagem de qualidade.

           Outra maneira interessante de diminuir os efeitos do aquecimento global consiste no tratamento de dejetos animais por meio do uso de biodigestores. Nele, as fezes dos animais são tratadas e transformadas em biogás e fertilizante, que podem ser utilizados na geração de energia elétrica, térmica ou mecânica, diminuindo tanto os gastos dos agricultores, quanto a emissão de gases do efeito estufa.

 

           É comum também que os produtores alinhem a técnica do iLPF com o sistema de plantio direto (SPD), que consiste em processos, como a menor mobilização da terra e a manutenção permanente da superfície do solo para evitar uma parte de sua erosão; a diversificação de espécies cultivadas (que diminui a pobreza do solo); e a diminuição do tempo entre colheita e semeadura, com o intuito de garantir a conservação da água e do solo. Adotar estas medidas, garante diferentes usos da terra e a manutenção da biodiversidade da região, o que resulta na redução da emissão de gases do efeito estufa.

           Há três maneiras de adotar esta metodologia: quando o plantio é feito entre a vegetação nativa ou entre outros vegetais já plantados; investir na rotatividade, cultivando diferentes espécies em ciclos específicos ao longo do ano; e, em sucessão, com o cultivo de diferentes culturas sem levar em consideração o tipo de plantas, ou qual a finalidade do uso da terra.

Incentivos

           Muitas destas tecnologias foram trabalhadas no Plano ABC, que durou de 2010 a 2020. O programa, que contribuiu para que o Brasil alcançasse as metas do Acordo de Paris na redução da emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) provenientes das atividades agrícolas e de pecuária, alcançou mais de 72 milhões de hectares de terras agricultáveis, promovendo ganhos de produtividade em terras agrícolas já consolidadas, sem a necessidade de converter novas áreas à atividade produtiva. Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a cada R$ 1 investido pelo Plano ABC, os produtores rurais investiram outros R$ 7 em recursos próprios, comprovando a importância de uma produção voltada a aproveitar recursos naturais, através da inserção de tecnologias.

           Na última safra, a linha de crédito que financia o Plano ABC atingiu quase R$ 2 bilhões em valor contratado, segundo o Banco Central. Com o encerramento do antigo programa, foi lançado o Plano ABC+ 2020-2030 com o intuito de renovar as metas para os próximos anos.

 

           O desafio para reduzir a emissão de carbono e avançar na sustentabilidade do planeta é fazer com que todos os produtores rurais brasileiros, inclusive os pequenos, tenham acesso a tecnologias. Mercado não vai faltar! Afinal, conforme a ONU, a quantidade total dos habitantes do planeta deve chegar a nove bilhões de pessoas até 2050 e produzir, de forma sustentável, alimentação para todo esse contingente é um sinal da importância e da seriedade desse assunto.